Mulheres que escrevem para mulheres
Olá, viajantes!
Hoje é Dia da Imigração Japonesa, por isso trago um pouquinho do Japão sobre o qual estudo desde a graduação. Mais especificamente, compartilho com vocês meu encanto e admiração pelas mulheres mangakás que revolucionaram a forma e os temas abordados nos mangás shōjo desde sua entrada nesse meio na década de 1950.
Em 2017, participei das 4as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos que aconteceu na ECA-USP, apresentando a comunicação intitulada Mulheres que escrevem para mulheres: um recorte da evolução do mangá no segmento shōjo. Essa apresentação virou artigo e está disponível nos Anais virtuais das Jornadas, aqui.
Nele, falo um pouco sobre como a entrada de mulheres como mangakás de histórias shōjo, que até então eram escritas e desenhadas por homens, fez com que o segmento evoluísse muito e muito rápido tanto em forma visual quanto em temáticas abordadas. Essa evolução meteórica acabou, com o tempo, por se espalhar para outros segmentos, e as principais responsáveis são conhecidas como Hana no Nijūyonen Gumi (Grupo do Ano 24 em Florescer), ou simplesmente Grupo de 24. Essas artistas são chamadas assim porque nasceram no ano 24, ou próximo a ele, da Era Shōwa, ou seja, por volta de 1949.
Fazem parte desse grupo mulheres maravilhosas como Ōshima Yumiko, autora do angustiante Banana Bread no Pudding; Yamagishi Ryoko, autora do shōjo ai Shiroi Heia no Futari, Hagio Moto, autora de Thomas no Shinzō; Takemiya Keiko, autora de Kaze to Ki no Uta; e Ikeda Riyoko, autora do incomparável Rosa de Versalhes, que só viu a luz do dia porque Ikeda insistiu muito com seus editores para que fosse publicado. A editora não achava que meninas japonesas se interessariam pela história de uma figura histórica estrangeira, no caso, Maria Antonieta.
Ainda discorro um pouco sobre as décadas de 1980 e 90, em que as barreiras entre os segmentos começam a se romper, e as responsáveis por isso também são mulheres. Dentro do próprio shōjo, autoras como Yoshida Akimi (Banana Fish), Yuki Kaori (Angel Sanctuary e Conde Cain) e o grupo CLAMP (Guerreiras Mágicas de Rayearth e Sakura Card Captor) mesclaram temas, traços e dinâmicas dos mangás para meninas e para meninos, atraindo os dois públicos para suas obras. No segmento shōnen, mulheres mangakás tiveram sucesso duradouro também fazendo essa mescla, como Hotta Yumi (roteirista de Hikaru no Go), Arakawa Hiromu (Fullmetal Alchemist) e a famosíssima Takahashi Rumiko (Maison Ikkoku, Ranma ½ e Inuyasha).
Enfim, falo sobre muitas mulheres incríveis que escreveram obras lindíssimas e importantes, publicadas em revistas de grande alcance de público no Japão. O trabalho delas fez com que a quantidade de mulheres trabalhando com quadrinhos mainstream no Japão seja enormemente maior do que em países ocidentais já tradicionais na publicação de HQs, como EUA e Bélgica, por exemplo.
Por isso, reitero minha admiração às mangakás que, mesmo nadando em um mar de shōjo mangás mega românticos e açucarados, tiveram coragem e liberdade para criar obras primas e abrir caminho para uma mudança gigantesca e maravilhosa.
Até a próxima!
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