Arquétipos na ficção

Importado da psiquiatria, o conceito de arquétipo é usado na ficção para a construção de personagens sem que se caia em estereótipos.

Em O herói de mil faces, Joseph Campbell apresenta o monomito, uma estrutura base que, de acordo com ele, se aplica a todos os mitos do mundo. Fazem parte dessa Jornada do Herói os arquétipos de personagens que movem a história.

Christopher Vogler viu nessa estrutura uma ferramenta para contar histórias marcantes e um caminho para não se perder em bloqueios criativos quando se trata de ficção. Em seu livro A jornada do escritor, ele diz que o arquétipo “é uma ferramenta indispensável para se compreender o propósito ou função dos personagens em uma história”.

Victoria Lynn Schmidt também apresenta os arquétipos inseridos no contexto da criação de histórias de ficção. Em seu livro 45 master characters, ela diz que “para o escritor, arquétipos são as impressões digitais para a construção de personagens bem definidas, sejam elas heróis, vilões, ou personagens de apoio”.

Os arquétipos da Jornada do Herói podem ser personificados por uma só personagem, ou podem ser incorporados por várias delas em momentos diferentes da narrativa. Vogler chama isso de função, já que ela deixa as personagens mais maleáveis dentro da história, podendo elas fazer as vezes de arquétipos diferentes em situações diversas.

Essa mobilidade do arquétipo da jornada como função deixa a história mais interessante e complexa do que se cada função fosse atribuída a uma personagem fixa.

Já os arquétipos elencados por Schmidt dizem respeito à personalidade das personagens. Segundo ela, uma só personagem pode ser a combinação de um ou mais arquétipos, sendo um deles a base de caráter e responsável por suas decisões rápidas e em situações de estresse.

A mistura de arquétipos em uma mesma personagem é um grande passo para deixá-la mais complexa e interessante.

O arquétipo não é, de forma alguma, a única maneira de se criar boas personagens, mas para quem está começando e quer algo bem redondinho e que já tenha bastante material para consulta, é uma boa opção.

Deixo aqui em baixo indicações de alguns livros para quem quer saber mais sobre personagens e experimentar criá-los com arquétipos.

Até a próxima viagem!


Sugestão de leitura:

CAMPBELL, J. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix / Pensamento, 1989.

CANDIDO, A. et al. A personagem de ficção. 12. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.

MELETÍNSKI, E. M. Os arquétipos literários. 2. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2002.

MURDOCK, M. The heroine’s journey: woman’s quest for wholeness. Colorado:
Shambhala, 1990.

SCHMIDT, V. L. 45 master characters: mythic models for creating original characters. E-book. 2. Ed. Wisconsin: Writer’s Digest Books, 2012.

VOGLER, C. A jornada do escritor: estruturas míticas para escritores. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

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